Lopes Muapenta
O Coronel Sérgio Vieira decerto que está a fugir das suas próprias ideias e responsabilidades enquanto (até há bem pouco tempo) agente activo no devir de Moçambique e com responsabilidades acrescidas naquilo que são as prioridades do Estado de Momento. É pelo menos isto (se quisermos ser brandos) o que nos sugere a sua a sua última “Carta a Muitos Amigos” da edição de 11 de Novembro, com o título “Sobre o rei nu”.
O Coronel Sérgio Vieira foi buscar uma lenda, sobre um Rei que certa vez andou nu, para insinuar, que o Presidente da República a par do Rei dessa lenda está também a andar nu. Não nos deteríamos a comentar insinuações desta natureza que devem ter suas motivações que não nos interessam se não achássemos que, no caso de Moçambique, a figura do alfaiate lhe assenta como uma luva. Isto é, da acção competente do Coronel poderia resultar numa figura melhor do Rei.
Mas vamos por partes.
O Coronel foi durante muitos anos o dirigente do Gabinete Para o Desenvolvimento do Vale do Zambeze (doravante “GPZ”) criado pelo Governo em 2005. A julgar pelas funções e potencialidades, era um projecto que tinha tudo para dar certo ou não representasse o vale do Zambeze em termos de África Austral:
- A maior reserva de água para o subcontinente;
- A maior reserva de carvão de coque, de alta qualidade; e
- A zona de melhor potencial agrícola, em termos de vastidão de terras de qualidade, assim como nas reservas de água.
É aqui onde começa a vislumbrar-se a fuga de responsabilidades do Coronel Sérgio Vieira principalmente no que tange ao potencial agrícola e o papel do GPZ durante todo o tempo gerido por ele nesta vertente.
Para o Coronel Sérgio, há “…contradições entre os discursos laudatórios de sucessos e a frieza dos dados estatísticos oficiais”. Ao que questiona: “quem engana a quem?”.
Uma pergunta interessante, mesmo porque a resposta desta já coloca o Coronel na linha de fogo do qual foge. É que o Coronel é também parte, pensamos nós, do leque de pessoas que fortemente contribuíram para que em determinadas áreas, pouco se encontre do “que se faz ou se planifica fazer, de modo efectivamente organizado” como ele mesmo afirma.
Segundo Hipolitico Hamela falando no Café da Manha, Sérgio Vieira recebia no GPZ dez milhões de dólares. O que fez com esse dinheiro? Pergunta-se Hamela para depois responder “zero! Zero! Zero! Pronunciando o terceiro zero mais zangado ainda pela forma como o Coronel esbanjou tanto dinheiro público. O Coronel não desmentiu o Hamela. Mais Veja uma empresa com mais de 100 viaturas 4X4! Quanta escolas teriam sido contruidas? Mais ainda, sabe-se que Sérgio Vieira para alem de DG da GPZ, era PCA da SOGIR, empresa participada pela GPZ e PCA de outras tantas participadas pela SOGIR entre elas a SOVALE, SAPVZ, MCBZambeze, OLAM algodão de Zambeze.
Tomemos a Revolução Verde como exemplo. Desde 1975 que o Estado definiu a agricultura como base de desenvolvimento. O Coronel foi, durante 10 anos, dirigente de uma área que com maior potencial agrícola da África Austral. Nestes termos, qualquer estratégia integrada que envolva o potencial agrícola do país, para ter sucesso dependia também do seu esforço e labor nessa qualidade. Como dirigente visionário que sugere acções concertadas, planificadas e organizadas, só a região do vale do Zambeze poderia ser indicativa e demonstrativa do sucesso da revolução verde, caso houvesse por ali alguma competência do alfaiate que evitasse a vergonha do Rei (salvo se, no caso do Coronel, a falta de diligência no papel de Alfaiate visava justamente mostrar a “massinguita” do Rei).
Ora vejamos e para comprovar o que acima dissemos, que, dos dados disponíveis e que foram objecto de consulta, consta que dos 225 000 km 2 (cerca de 220 milhões de hectares), o vale do Zambeze tem cerca de 52% dos recursos hídricos do pais e, tinham sido já identificados e segundo a mesma fonte, 2, 5 milhões de hectares para a agricultura, por exemplo, onde cerca de 1,5 milhões de hectares destinavam-se a agricultura intensiva, com regadios, e questionamo-nos, com os pontos já identificados, com as metas já definidas, com disponibilidade e robustez financeira que se conheceu do vale, o que ela produziu? Nada!
Parte da Revolução verde do qual reclama não estar a acontecer, teria sido feita com o esperado e não concretizado contributo que o Gabinete do Coronel Sérgio dirigia. De facto olhando para os dois eixos essenciais e complementares que tinham sido planificados para este gabinete, nomeadamente dos grandes projectos que se sabe orientados para a produção de energia eléctrica, com base na água e carvão, a exploração dos recursos do subsolo, carvão granitos e o de coordenar acções com as comunidades (desenvolvimento comunitário), destinados a potenciar o desenvolvimento da agricultura, silvicultura, pecuária, pescas e processamento local da produção destinada ao mercado, este Gabinete teria sido o grande impulsionador da Revolução verde.
É de pretenso mau gosto apontar o que não está bem como se nunca tivesse responsabilidade no que aconteceu. Repisamos, o GPZ foi um projecto que tinha tudo para dar certo, e que dele só se conhece o insucesso.
Na esteira do que diz o Coronel sobre informar com verdade, achamos nós que, se a verdade tivesse orientado o Coronel Sérgio Vieira na informação que dava ao Presidente da República, já há muito teria sido extinto este Gabinete, justamente porque nunca logrou produzir o que se propunha produzir. E não foi extinto antes porque, entendemos nós, que faltou sempre informação realística, na verdade o discurso laudatório que o Camarada Sérgio fazia do GPZ, era desmentido e usando suas próprias palavras pela “frieza dos dados estatísticos oficiais”.
E lembro de memória uma entrevista a uma das estações de televisão onde o Coronel exemplificava o aparente sucesso do GPZ com a construção de um furo de água, ao que segundo ele, com a redução da distância onde se buscava a àgua, a rapariga tinha tempo para ir à escola. Um exemplo apaixonante até, mas que não espelhava e nem de perto o que se esperava do Gabinete e do contributo real que deveria dar.
Uma pergunta que deve andar nas cabeças de todos nós neste momento e considerando que o Coronel é apologista da planificação e organização (de certeza implementados no GPZ) nas acções é: o que fez com que o projecto não fosse extinto, volvidos mais que dez anos?
Vale a pena revisitar as palavras do ilustre Coronel quando questiona se “…Não escondemos e alteramos dados que, depois, sob o risco de passarmos por imbecis ou do contra, não ousamos denunciar?” Só a omissão e alteração de dados pode justificar e desculpar o facto de se manter por longos períodos de tempo um gabinete moribundo.
Mais, não se percebe o que pretende alcançar o ilustre Coronel quando diz que “Assisti em diversas localidades e distritos às presidências abertas de Armando Guebuza. Ouvi relatórios em realizações exclusivamente de terceiros se apresentavam como acções deste ou daquele sector de governação local. Escamoteava-se a verdade, sobretudo, porque nunca se mencionava quem levara o cabo o trabalho”-fim da citação.
Se o Coronel assistiu, logo presenciou: o que fez? Calou-se. Diz mais este alto quadro desta nação: ”constatei que em alguns sítios, emissários das governações locais ameaçavam de represálias as pessoas que queria denunciar anomalias e, até, actos flagrantes de corrupção.” O que fez uma vez mais? Calou-se, mesmo ouvindo o incentivo do Presidente para a expressão livre dos participantes. Calou-se no seu silêncio cúmplice a espera da melhor oportunidade de gritar a nudez do Rei; calou-se e vem agora dizer em jornais o que podia muito bem ter dito, feito ou evitado na hora. Tete deve ter muitas saudades do falecido Primeiro Secretario Castro que não dava espaço as baboseiras do Coronel.
E porquê não o disse? Porque é, quanto a nós parte da nudez do rei e, querer sacudir o capote agora, não passa de um exercício inútil de quem nunca quer arcar com a verdade, mesmo quando sabe e escreve que um “estado forte, uma governação forte só preservam e ampliam esse seu estatuto trabalhando com verdades, dados fiáveis….”-fim da citação.
Mas não nos espanta este Coronel. É o mesmo que, por alturas da morte do Grande líder Samora Machel, era Ministro da Segurança e a sua poderosa máquina secreta não “captou” nada dos preparativos da tragédia que viria acontecer. É este Coronel que até devia ter viajado com o Grande Líder e, a última hora, sabe se lá porquê, não foi “Quantas vezes me chamou Samora para chorar num ombro confiável porque X e Y haviam caído”, diz o Coronel no seu livro um livro que diz que escreve o que testemunhou mas quando o folheamos descobrimos ha coisas que so podem ter sido imaginadas pela sua fértil memória.
É este Coronel cujo testemunho escrito em livro sobre factos sobre a luta de libertação vem sendo desmentido por muitos companheiros seus, ora lhe chamando mentiroso, ora, como nós, lhe lembrando que tinha responsabilidade para que as coisas acontecessem diferente do que aconteceram ou que sem a sua acção poderia se ter almejado sucesso.
E o exemplo da verdade, deve vir de cada um de nós, descobrir a nudez do Rei agora, é similar a acção do Camarada Rebelo, de querer fazer-se primeiro entre os iguais.