terça-feira, 27 de outubro de 2009

Sobre um Semanário que Costumava Dizer a Verdade

Castro Muapenta

“Piromania”, “Circo Leopoldo”, ”Chumbo à vista”, “Batota”, “pouco ou nada já se pode fazer para salvar o processo”, “Frelimistas fornecem material eleitoral”, “Fantasma da fraude”, estes são os títulos incendiários que um semanário da praça, que já foi referência no jornalismo moçambicano, foi escolhendo para reportar o processo eleitoral moçambicano. São títulos que demonstram uma grande consistência e uma constância para o alcance de um objectivo perceptível a olho nu: Fazer com que os resultados das eleições não sejam credíveis.

O que é que se pretende com esta estratégia? Muito provavelmente, os mentores destas “mentícias” pretendem diminuir a legitimidade do vencedor das próximas eleições que toda a gente já conhece. O próprio semanário publicou há alguns meses uma sondagem (da Afroborometer) que dava impressionantes níveis de aceitação popular de um dos candidatos. Parece que alguns sectores internos e externos entenderam que uma vitória tão avassaladora seria difícil de gerir. Daí o recurso a estratagemas desenhados para criar desconforto no vencedor e transmitir a ideia de que a vitória poder-se-ia dever ao facto de ter havido batota ou do facto de já nada se poder fazer para salvar o processo.

O semanário em questão tentou, no princípio da campanha eleitoral, seguir a estratégia que conduziu ao caos político no Zimbabwe. A ideia era replicar essa experiência no nosso país. Foi visível o esforço que os editores desse semanário fizeram para construir a imagem de que a Campanha Eleitoral estava a ser condicionada por uma violência institucional, pelo uso abusivo dos bens do Estado e pelo amordaçamento da oposição, com apoio dos órgãos eleitorais.

As duas primeiras construções caíram por si sós. Na verdade, o processo eleitoral em curso foi o mais pacífico da curta história multipartidária da nação. Foi verdadeiramente impressionante a sintonia dos líderes políticos mais destacados nos apelos aos seus apoiantes para a contenção. Qualquer observador atento pôde verificar que as brigadas de mobilização dos diferentes Partidos circulavam em perfeita liberdade e segurança. Foi pois visível o constrangimento com que o semanário incendiário teve que abandonar o entusiasmo e a satisfação inicial na reportagem dos casos de violência eleitoral.

Sobre o uso de bens do Estado deu-se um fenómeno similar. Se em eleições anteriores, fruto da própria história do país, era possível encontrar uma ou outra viatura a transportar brigadas de choque de um determinado Partido para irem fazer campanha, nestas eleições esse facto não aconteceu em absoluto. A simples realidade de esse mesmo semanário, nos casos em que tentava provar que havia uso de carros do Estado para a campanha, ter tido dificuldade de arrolar mais de cinco ou seis casos em toda uma semana, é prova irrefutável de que não se pode falar, com propriedade, do uso de viaturas do Estado. Mesmo as poucas matrículas que foram apresentadas, não são indicação definitiva de que elas existem, de que as viaturas estavam realmente em campanha, ou de que as mesmas não estejam em processo de leasing para as pessoas que as estivessem a usar.

Fica pois claro do que aqui se diz que fracassou a tentativa de manchar o processo eleitoral com base na manipulação da violência. Fracassou a tentativa de manchar o processo eleitoral com base na alegação do uso abusivo de bens do Estado para fins de política partidária. Não teria credibilidade qualquer tentativa de minimizar os resultados eleitorais com base nestas mentiras.

Foi, assim, com grande desespero de causa que o semanário de que temos vindo a falar se agarrou à sua estratégia de descredibilização dos órgãos eleitorais. Para tal recorreu à tergiversação dos factos, à manipulação e à mentira mais despudorada. Por exemplo, com os títulos “Piromania” e “Batota” pretendiam transmitir a ideia de que a CNE, de maneira irresponsável, estava a prejudicar Partido(s) Político(s) e Candidato(s) ao processo eleitoral. Nessa tese alinhava com a posição de alguns dos nossos amigos estrangeiros segundo a qual a aceitação das candidaturas deveria respeitar um princípio subjectivo de inclusão. Quando ficou provado que a decisão da CNE se fundava na legislação eleitoral aprovada pelo Parlamento moçambicano o desespero cresceu. Partiu então para a tergiversação e para a mentira. Transmite nos seus editoriais a ideia de que na avaliação de concursos públicos os agentes do Estado deveriam passar a perguntar a filiação partidária dos accionistas das empresas concorrentes. Este passaria a ser um dos critérios de avaliação!!!

Daqui para a mentira a distância é curta. O exemplo é a última parangona desse semanário que reza “Fantasma de fraude”, título incendiário na base do qual se tenta construir uma mentira, segundo a qual a empresa que forneceu “software” à CNE não existe. Felizmente que no nosso país ainda há jornalistas sérios e íntegros.

Muitas das invencionices e mentiras desse semanário acabaram sendo expostas publicamente. O nosso voto é que ninguém, incluindo os observadores que convidamos que virem assistir à nossa festa, se agarre nestes factos capciosos e viciosos para julgar um processo que está a decorrer com toda a normalidade.

Esperamos, sobretudo, que o semanário de que temos vindo a falar volte a ser um jornal isento

Leia Aqui A MANCHA (CHETE) do SAVANA: Haverá Rectificação?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Discutindo Convicções

É interessante a forma como discutimos as coisas em Moçambique. Toda a gente adora atropelar o Governo e a Frelimo de todas as formas possíveis e imaginárias. Muitos não se coibem de, através de seus blogs, lançar impropérios para as figuras do nosso Estado e, até, qual azagaísmo, faltar o respeito devido às pessoas de quem têm posições divergentes.

Tudo isto vem a propósito do meu post anterior que motivou debates intermináveis noutras paragens como sejam os blogs do Reflectindo e do Jonathan McCarthy.

É facílimo encontrar estes dois personagens na linha da frente contra tudo o que é e/ou parece erro governativo ou político da Frelimo. É frequente encontrar estes senhores pregando o "caos moçambicano" e a podridão da sua classe dirigente. É usual encontrá-los de dentes cerrados contra qualquer um que ouse contrapor uma posição diversa a que, invariavelmente, usam para atacar ou o o Governo ou a Frelimo.

É comum ouvir-lhes que se defende cegamente o poder do dia quando se pede que aprofundem ou vejam o que "parece" errado de outra forma; noutro ângulo.

Provoquei-lhes com a possibilidade de o MDM e o Daviz Simango, a julgar pelas mensagens que nos enviou pelo Hi5 (possível até por telemóvel, instantes antes, no momento ou logo depois do sucedido) e outras plataformas electrónicas em claro sinal aproveitamento político da situação condenada pr todos incluindo pelo Chefe do Estado Moçambicano, terem ensaiado aqueles desacatos para se promoverem e cavarem mais fundo a cova da Renamo.

Foi a histeria total. Foram vistos indivíduos identificados com a Renamo e nada mais importa: não importa a averiguação do grau de comparticipação desses indivíduos nem a certificação de que, apesar de terem sido vistos, estiveram ou não envolvidos em tudo quanto aconteceu (temos que assumir que todos arancaram a arma ao polícia, todos dispararam para o ar, todos distruiram a aparelhagem, todos atiraram pedras, todos levaram a arma à Dhlakama) nem a muito defendida necessidade de legalidade na privação de liberdade das pessoas.

O Estado, para estes senhores, deve sair a rua e prender. Aliás, foi isso que os agentes do Estado fizeram em Mongicual com os resultados conhecidos e condenados. Mas desta vez, foi o MDM, foi Daviz; prendam-nos.

Defendem que se prendam os indivíduos porque Dhlakama e outros lacaios tiveram pronunciamentos que "indiciam" que a Renamo esteja envolvida no atentado a democracia ocorrido em Nacala. Para estes senhores, neste caso, sublino neste caso é suficiente. Para o Estado não é. Foi critério muitas vezes usado e muitas vezes criticado que, agora que se está ou deve estar a cumprir a legalidade, fazemos barrulho para que se faça o contrário.

Nesse exercício esquecemos o essencial. O atentado a democracia que é o uso da violência ou o aproveitamento dela para nos auto promovermos.

Com esses expedientes não questionamos, por exemplo, como é que o Conselho Municipal de Nacala autorizou o Comício e a PRM só destacou 1 elemento numa situação em que, dada a presença de Dhlakama e a conflitualidade entre as duas organizações, poderia gerar tumultos como, aliás, veio a acontecer.

Com esses expedientes, não abordamos positivamente, como todos e cada um podemos fazer progredir o projecto de democracia que queremos, de facto, implantada em Moçambique.

Com esses expedientes Reflecti-McCarthianos apenas fizemos, mais uma vez, o exercício de separação os pro partido x e os contra esse x partido sem de facto pensarmos o país.

Provocação feita com termos que, quanto a mim, tem tudo de sentido, é hora de pensar o país uma vez que, como diz o falecido Lucky Dube, "There's no future in the past" (não há futuro no passado), é tempo de correr.

Um abraço

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Conspiração Teorizada

Detesto violência. Abomino quem faz da violência um modo de vida. Abomino mais ainda quem use a violência para se projectar, aparecer, ou fazer passar a sua imagem/ideais.

O assunto político de momento é o acto vil consubstanciado numa pretensa tentativa de assassinato protagonizada, alegadamente, por membros da Renamo a mando, ao que se diz, de Afonso Dhlakama.

Ando com a cabeça às voltas para perceber como se pode falhar na intenção de matar alguém, nas circunstâncias em que as coisas são nos dadas a conhecer.

Continuo a pensar que o fracasso de uma tentativa de assassinato, principalmente quando o tentador é um dos principais adversários, representa sempre um capital político forte. Atrai simpatias, solidariedade e pena.

A génese do MDM e da popularidade do seu líder está nesses sentimentos. Ao ser excluído da corrida eleitoral, Daviz angariou simpatias e solidariedade das gentes da cidade da Beira. Daviz foi acolhido pelas bases da Renamo e por muitos sectores beirenses quando foi desamparado por Afonso Dlhakama e seus sequazes.

É um facto que para os desafios que se avizinham, o expediente de coitadinho traído pela cúpula da Renamo não chega para atrair simpatias, solidariedade e apoios. É necessário um forte trabalho ideológico. Quando este se mostra insuficiente há que recorrer a outros. E porque não um atentado?

Um atentado reagrupa os grupos de solidariedade. Um atentado choca. Um atentado mobiliza. As primeiras pessoas que neste contexto se aperceberam disso foram os próprios membros do MDM. Foi o próprio Daviz. Trato-o assim porque é meu amigo no Hi5. Foi através do Hi5 que ele me anunciou o sucedido, no mesmo dia em que os factos ocorreram. Foi através do Hi5 que o Daviz, me anunciou o “Atentado de Golpe” e me anunciou que a “democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se só você pode salvar Moçambique. “

É evidente como eu faria para salvar Moçambique.

Tenho discutido este assunto com vários amigos e alguns são unânimes em dizer que de todo este cenário, só uma parte saiu a ganhar. Não me parece difícil de adivinhar qual.

Portanto, mais do que lamentar o sucedido, o MDM tratou de capitalizar o máximo possível o sucedido em Nacala. Tratou de mobilizar as massas para a sua causa.

Estarei a tentar dizer que o atentado não aconteceu? Não, de todo não. Estou apenas sugerir que olhemos para este acontecimento de outros ângulos. Estou a seguir um trilho deixado pelos acontecimentos anteriores ao atentado, os dados obtidos após o atentado e o efeito balão de oxigénio que este representa.

Estou a tentar dizer que é fácil “entregar” o atentado ao Dlhakama e seus sequazes tendo em conta que, “visivelmente,” foram homens “identificados” como da Renamo que perpetraram o atentado; mas não seria idiotice pensar que, apesar daqueles actores, o atentado pode ter sido cozinhado noutras bandas e por outras cabeças que não de Dlhakama e seus sequazes principalmente quando analisamos o aproveitamento político que o MDM e seu líder deram do facto.

Mas seja como for, seja quem for que preparou e executou é de todo condenável. Repugna me tanto a ideia de se “forjar” um atentado como instrumento mobilizador como a ideia de, tendo sido a Renamo, pugnar pela eliminação física ou, em última análise, pela intimidação dos concorrentes ao invés de eliminá-los e ou amedrontá-los com planos e ideias convincentes que demonstrem uma Renamo preocupada com a Nação.

Em comentário à Carta a Moda Antiga que o Mapengo escreveu a Ivone Soares acerca da “Teoria de Culpabilizar os Outros”, alguém comentou que a Renamo ainda não se constituiu como alternativa para a governação deste país. Esta constatação resulta do vazio de ideias que caracteriza a Renamo.

Mas, para além do vazio ideológico, as conhecidas zaragatas internas, desorganização, falta de democracia interna têm nos sido servidos em doses cavalares. É interessante pensar como um partido em si desorganizado pode pensar, planificar e tentar executar a ideia de eliminar o Daviz. Isto a suceder, seria a primeira vez que a Renamo nos demonstra alguma capacidade de pensar, planificar e executar. Seria uma novidade como é novidade entre nós eliminar fisicamente adversários políticos nos dias que correm.

Política não é campo privilegiado da santidade. Antes pelo contrário.

Diz o Mapengo que “alguns defendem que a política tem que ser limpa (?!).” Assim (contextualizando no caso em apresso), “se os outros, neste caso a Renamo, aparecem a fazer jogo sujo tentando eliminar fisicamente um adversário político, é lógico que perde a cotação por parte dos que têm essa ilusão” de que a política tem que ser limpa.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mudança

Este blog vai mudar. Os longos interegnos vão dar lugar a uma participação mais activa, mais contundente. O Soldado Raso vai cumprir a sua missão, vai descarregar o carregador da sua AK47 intelectual para aprender, para participar com ideias, para (como diz Júlio Mutisse) ser cidadão militante e consciente. Sois chamados.

Aos puritanos, aos adeptos do politicamente correcto convido-os a repensarem antes de cá virem. Aqui as coisas serão ditas ao estilo MATA MATA. CURTO E GROSSO.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Estou na Área

Fui forçado ao silêncio. Fui gostosamente forçado ao silêncio. Gostosamente porque foi fazendo o que gosto que me vi forçado a estar blogosfericamente no silêncio.

O meu amigo, primo Matsinhe que anda por estradas similares as minhas é testemunha do quão gostoso é comer poeira pelas estradas de Dindiza, Chicualacuala, Banhine e por aí fora, fazendo algo com impacto imediato para as gentes deste Moçambique. Sim porque os gazenses são moçambicanos; sim porque o que estamos a fazer, multiplica-se pelo esforço de muitos outros em todos os cantos de Moçambique.

Enquanto isso, em Maputo e outros cantos produz-se ciência, apimentam-se debates. Continuamos a assistir "aos puros", aqueles que dizem sempre "as verdades", ancorados numa qualquer oficina blogósfera, e os "maus" e "oficiosos" espalhados nas críticas, bandlas e subversidades blogósferas. O País, os filhos inteligentes do país saberão julgar a utilidade, mérito e demérito dos argumentos esgrimidos.

O Pais real precisa dos debates que correm aqui. Deles podem surgir ideias para melhorar as suas vidas. Mas mais do que debates, o povo precisa de acções que lhes afaste da vulnerabilidade.

É chato quando chove há fome e quando não chove também há fome. O país é rico.

PS: ... desisti. Mano Júlio quase foi trucidado por causa de um PS.